quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Noites dos distanciados

Cachorros latindo em gradações de distâncias, barulho das folhas das árvores se mexendo, ruídos dos aparelhos eletrônicos, sons de uns poucos gatos pingados de carros circulando. Dentro de casa com todas as trancas verificadas, a noite exala uma paz e um ânimo que o dia não me proporciona mais. Passa uma calma proporcionadas pelo retiro do homem trabalhador que dorme cedo após a novela. Não se ouve os passos de quem ainda está por chegar do trabalho ou do estudo. Esses, andam rápido pra não perder mais nenhum minuto antes de dormirem o breve sono e também para evitar se exporem aos perigos da noite. Quase não percebem o brilho romântico da solitária lua preocupados com os passos de quem vem a certa distância, ou quem pode surgir na próxima esquina deserta. Cachorros latem com um passante na rua. E eu aqui com essa vontade noturna de fazer as coisas acontecerem em plena meia noite estéril de subúrbio dormitório. Por que o dia não tem mais meu vigor? Por que a noite tornou-se a hora capaz de pensar em executar sonhos e não mais o dia? Será descrédito nas pessoas? Ou será que sinto isso porque é o momento em que todas as engrenagens que trituram a boa intenção dão uma pausa para os bagaços humanos ganharem um sumo enquanto adormecem seus corpos? A noite ainda guarda o temor do mal. Se não fosse isso estaria numa rede no quintal sentindo o sereno fresco da noite e não nesse calor de toca. As engrenagem são ações das pessoas que não conseguem ver que suas atitudes aparentemente ingênuas fazem ela estar viva. As pessoas já não sabem para onde vão ainda que tenham certeza do objetivo. Outras vão pelo caminho que lhes é permitido a fim de sobreviver mais um pouquinho do jeito que dá. Eu tive sonhos. Criados com muita dificuldade, já que o mundo para muitas pessoas diz desde que se nasce que você não é nada. Faço um esforço para mudar as peças das engrenagens, mas se mover é liberdade para poucos. Não há méritos, e quando há usurpam tudo que dá força pra conseguir. A gente tem que se mutilar para estar onde nos é negado, pois qualquer motivo é argumento de descrédito. É duro, mas não há superação. O caminho te corta e você sangra enquanto alguns se esforçam para manter o foco em caminhos floridos. Tudo se distancia, todos que aqui estão são distanciados geograficamente e mentalmente. A noite é solitária. A noite de nós distanciados dos meios que fazem os sonhos acontecerem. Será os sonhos estarem errados?

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Ciclo da preguiça

Ai é dia
Só mais
Um pouquinho
Antes de levantar.

Ai não tem jeito
Já tá quase na hora
De almoçar.

Ah bucho cheio
Agora é só
A sesta que há.

Bom agora sim
Mas antes
O lanche da tarde
Vou aprontar.

Ah e agora
O dia se foi
Tenho tanto a fazer
Uma lista
Vou aprontar.

Cadê o sono
Ele não vem
Mas há de chegar
Pois amanhã tudo
Há de mudar.

Ai é dia...
Só mais
Um pouquinho
Antes de levantar...

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Decomposição

patético
patéti
paté
pa
co
coti
cotité
cotitépa

sábado, 7 de novembro de 2015

Puerilidade da liberdade

Ser livre para se estar só
Ser livre para com outro estar
O apego de não dar satisfação
A falta de alguém se interessar
Dilemas da estima da liberdade.

Qual o conceito de ser livre?
Seria ela apenas um sentido?
Liberdade é tão relativa quanto o tempo
Então por vezes é apenas um sentimento.

Há quem seja livre estando preso
E preso sem haver amarra alguma.
Há que se dizer: são liberdades e liberdades
Qual delas precisamos para se viver?
Na liberdade há escolhas
E nas escolhas liberdades negadas.

Pensar ser livre
Ignorar ser ela pueril
É o que faz sentido agora
Mas ainda há um vazio.

Qual liberdade que me nego,
Me faz falta?

quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Suspiros

Não é real...

(suspiro)
Não conheço...
(suspiro)
Tenho que esquecer...
(suspiro)
O coração insiste...
(suspiro)
O pensamento martela...
(suspiro)
A realidade se encarrega das ilusões...
(suspiro)
Mas é tão bom...
Suspiros, suspiros
Quem dera fossem de satisfação
e não de lamento.


sábado, 1 de agosto de 2015

Maturidade

É transferir as esperanças do futuro para o presente.
A possibilidade de se libertar está sempre nele até o fim.

domingo, 19 de julho de 2015

Finitudes e eternidades

Olho o céu e as estrelas
Estáticas e cintilantes
E nós aqui nos movendo sem fim.
Dias, noites, ciclos
Vida, evolução e morte
E quando será o fim?
São uns trilhões de inícios
Mais outros trilhões de fins.
E a imensidão negra inigmática
Se exibe eterna, estática.
E eu aquí na certeza que perece
Faço do céu, mais que respostas
Contemplo ele poesia.
Olho ao lado e imagino
Um outro olhar o céu
Em outra parte elíptica.
Quem sabe um outro coração
Ciente desse finitide
Ouse sonhar o eterno junto.
Mas o movimento
Pai do tempo
Nos tira outra vez
Toda esperança.
E vem outro dia
E o sol nos diz sem poesia
Que a fome vem,
As ambições vem,
Os desejos vem,
Os impedimentos vem,
As dificuldades vem,
E nos exaurem mais uma vez.
Para onde eles vão?
Pareço escutar a curiosidade
Do infinito estático a nos observar.
Afinal para onde vamos?
Pra onde vou?
E vem vindo outro dia
Novos ciclos, novos fins
outras eternidades.