segunda-feira, 27 de abril de 2009

Luminar do breu

Fitava a luz com tamanha angústia
A fim de sair de um estado de escuridão
Que não percebia nada ao meu redor
Não que não quisesse, ah como eu queria
Esse era o que me motivava a buscar iluminação
Mas também não via o que havia nela
E paradoxalmente, ela só tornava mais escuro
Todas as coisas que me rodeavam
Porque teimava em olhar em sua direção
Então um dia fui tomada pela escuridão que fugia
E não conseguia mais fitar a luz que eu seguia
Abri os olhos e o breu tomava conta
Esfregava os olhos a fim de que enxergasse algo
Mas a cada piscar só a sombra daquela luz
Aparecia em minhas vistas como fantasma
E exausta me pus sobre o solo
Vencida e resignada não quis mais abrir os olhos
E nesse momento sons jamais percebidos
Passaram a ser conhecidos por meus ouvidos
Foi quando apreensiva abri os olhos
De costas para a luz, aos poucos passei a ver
Formas jamais vistas antes de minha busca incessante
O breu foi aos pouco se revelando
E a luz que tanto buscava refletia nas coisas
Que a penumbra seus contornos ressaltavam
Impressionada e um tanto deslumbrada
Fui me distanciando daquela forte luz
Foi quando me deparei emocionada
Com a mais bela visão que me tomava
Lá estavam elas... cintilantes cravejavam o breu
Foi a primeira vez que vi estrelas. Então sorri.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Descobrimento do Brasil

Dia do Descobrimento?
Dia do encobrimento
Dos encontros e desencontros
Da disputa pela conjugação
Em Brasil suprimindo brasis.
Contudo, a flexão é gerúndio
Não é particípio.
Tem muito futuro e passado
Que ainda há de vir.

Sobressaltos

Às vezes me pergunto
Me assusto com o mundo
As coisas sempre parecem
Que permanecem
Por serem compreendidas.
E me incomodo com a dúvida
Sobre algo aparente tão obvio
Então as guardo e sigo a vida
Procurando apreender explicação
As vou acumulando e vivo.
Meus olhos se tornam faro
Curiosos e contemplativos
Mas parece que o encontro
Da resposta que sacia
Se distância e se dissipa
Em outras mais inquietações
Que sempre parecem tão sabidas
Aos que calmos seguem a vida.
Às vezes como que susto
Surge uma presunção
E logo busco verificação
Confiando a outro a inquietação
Mas sempre como resposta
Recebo a pergunta como conclusão.
Às vezes me pergunto
E apenas vejo o mundo
Muitos são interrogação
A maioria, da pergunta
Não tem a mínima noção
E nenhum tem absoluta solução.
Às vezes me pergunto
E vou a lugar nenhum
Mas ao menos indo vou.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Ilusão

Há quem diga que ela cause dor
Há quem faça dela uma declaração de amor
Há quem dedique a vida para dela se livrar
Há quem veja ela como condição pra se alegrar
Há quem ao percebê-la deseje sucumbir
Há quem só viva se dela puder se nutrir

Mas esse jogo de opostas sensações
Que ela acomete a tantos corações
Tem o agrado ou desgosto condicionado
Ao valor oposto que a ela esteja relacionado
Ou então a forma como surge para gente
Como logro que corrompe ou ideal que nos faz crente

Aos que primam pela verdade
Ela é sinônimo de infelicidade
Aos que a realidade tornou calejados
Ela é como conforto que os deixam aliviados
Aos que defendem a liberdade de escolha
Ela é como desvio que a opção atrapalha

Eu só sei que só existo do que é real
E mesmo uma ilusão ao concreto é leal
E é por isso que o mais difícil é a desilusão
E a conclusão do que era buscado virar decepção
Logo se for grande a sedução de ser vivida
Que seja antes de tudo consciente e reconhecida.

Intransitivo

Pensar em ti
Virou costume
Que segue rente
Em meu agir

E nem o fato
De nunca ser caso
Provoca dano
Ao meu humor

Pois a sensação
E essa emoção
Enche o coração
E alivia a solidão.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Mágoa de quem ama

O que as palavras dizem:
Você pôs tudo a perder
Se amor só existia para mim
Porque tinhas que outra procurar
Quero que nada digas
Não tem perdão o que fizeste
Não me procures mais
Apague meu número da sua lista
Esqueça que eu existo
Pois você para mim morreu.

O que os sentidos dizem:
Porque me magoaste?
Dê um tempo para mim
Por enquanto não me ligue
Deixe essa ferida cicatrizar
E se ainda me amar
Se o arrependimento
Se fizer presente em ti
E dúvida não mais existir
Não deixe de me procurar
O amo, e perdão irei te dar.

domingo, 5 de abril de 2009

Vivemos em tempos

Vivemos em tempos de crise
Um colapso não de escassez
Mas de esgotamento da palavra
E instrumentalização de sonhos.

Vivemos em tempos de violência
Sem direção nem sentido
Gratuita, ou por um troco qualquer
De varejo generalizado.

Vivemos em tempos sem paixões
De ideologias esfaceladas
Pelos excessos de gerações de outrora
Que imprimiu descrença às de agora.

Vivemos em tempos de descrédito
Nos quais impera a indiferença
Que generaliza como via de escape
O humor por meio do sarcasmo.

Vivemos em tempos de anseios
Por algo novo que nos libere
Mas surge inquietante uma questão
No que resultará essa exaurida geração?

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Não fiz...

Hoje não
Não fiz poesia.

Tirei o dia
Pra suspirar.

Tirei o dia
Pra ver o mar
E suspirar.

Tirei o dia
Pra sentir a brisa
Ver o mar
E suspirar.

Tirei o dia
Pra libertar o pé na areia
Sentir a brisa
Ver o mar
E suspirar.

Tirei o dia
Pra sentir cheiro de maresia
Libertar o pé na areia
Sentir a brisa
Ver o mar
E suspirar.

Tirei o dia
Pra ouvir o som das ondas
Sentir cheiro de maresia
Libertar o pé na areia
Sentir a brisa
Ver o mar
E suspirar.

Tirei o dia
Pra me perder em pensamentos
Ouvir o som das ondas
Sentir cheiro de maresia
Libertar o pé na areia
Sentir a brisa
Ver o mar
E suspirar.

Tirei o dia
Pra suspirar
Ver o mar
Libertar o pé na areia
Sentir cheiro de maresia
Ouvir o som das ondas
Perder-me em pensamentos.
Hoje não
Não fiz poesia...